História e ficção

Desde, pelo menos, a década de 1970, historiadores e teóricos da História têm-se interessado pelos aspectos formais dos textos historiográficos, problematizando a separação entre história e ficção e focalizando o que esses gêneros discursivos têm em comum: são construtos linguísticos convencionalizados, intertextuais, que mobilizam dispositivos poéticos e retóricos em suas representações da realidade. Mais recentemente, na virada do século XX para o XXI, historiadores têm-se perguntado sobre o potencial cognitivo da literatura e da ficção, como no caso do dossiê Saberes da Literatura, publicado, em 2010, pela revista dos Annales, ou nas investigações de um autor como Ivan Jablonka, que busca mapear aquilo que ele denomina de “terceiro continente”, ou seja, territórios de aproximação e, por vezes mesmo de indistinção, entre historiografia e literatura. Nesse sentido, própria produção literária contemporânea tem contribuído ativamente para uma reflexão acerca das relações entre historicidade e ficcionalidade. Nas últimas décadas, tem sido produzida uma série de obras que, recorrendo à dispositivos autoficionais e ao hibridismo entre os gêneros do romance, da historiografia, da (auto)biografia, do diário íntimo e do ensaio, operam uma espécie de “desficcionalização” do romance, tornando mais porosas as fronteiras entre história e ficção. O objetivo desse curso é discutir a historicidade das relações entre história e ficção, abordando diferentes configurações históricas do problema, mas se concentrado nos modos com elas têm sido elaboradas nas últimas décadas.

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