O objetivo do seminário é contribuir para o estudo dos desterros ditatoriais que ocorreram ao longo do século XX, a partir da análise das singularidades e confluências que caracterizaram a experiência do exílio político no mundo contemporâneo.
Em sua maioria, as pesquisas desenvolvidas a respeito da temática do exílio, caracterizam-se por circunscrever a análise de um acontecimento complexo, plural e poliédrico aos limites do Estado nação. Esse seminário, contudo, se propõe a avançar em direção a uma análise construída a partir de um jogo de escalas entre o nível local, nacional, regional, internacional e transnacional da experiência vivenciada pelos protagonistas das diásporas que se seguiram à instalação de regimes ditatoriais no século XX.
O objetivo é realizar um estudo dos aspectos objetivos (quem foram os exilados, como procederam, quantos foram, de que maneira concretizaram a saída, onde se instalaram, etc.) e das dimensões subjetivas do exílio, buscando reconstruir a pluralidade de formas de viver e experimentar a saída de seus países de origem e a busca por um país de acolha, as memórias sociais e públicas que vem sendo construídas a respeito de tais acontecimentos e o lugar que os exilados ocupam nas disputas memoriais. Nesse sentido, o seminário será também um espaço para se pensar a respeito da dificuldade que se observa na construção simbólica dessa experiência transcorrida fora das fronteiras nacionais, não apenas como uma peculiaridade característica de algumas sociedades, e sim, algo inerente à condição do exilado em diferentes tempos e espaços.
Programa:
Unidade 1: Reflexões sobre o exílio – categorias analíticas, enfoques disciplinares, perspectivas historiográficas
ARENDT, Hannah. O declínio do Estado-nação eo fim dos direitos do homem. In: Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 300-336.
ANGAMBEN, Giorgio. Política del exílio, Archipiélago, n. 26/27, p. 41-52, 1996. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=81500814
HUYSSEN, Andreas. Os direitos humanos internacionais e a política da memória: limites e desafios. In: HUYSSEN, Andreas. Culturas do passado-presente: modernismo, artes visuais, políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014, p. 195-213.
RONINGER, Luis. Exílio massivo, inclusão e exclusão política no século XX.Dados-Revista de Ciências Sociais, v. 53, n. 1, p. 91-123, 2010.
FRANCO, Marina. Algunas reflexionesen torno al acto de exilio em el pasado reciente argentino. In: BOHOLAVSKY, Ernesto; FRANCO, Marina; et. al (comp.) Problemas de Historia Reciente del Cono Sur. Buenos Aires: Universidad Nacional de General Sarmiento – Prometeo Libros, 2010, 2 v, p. 303-322.
JENSEN, Silvina. Exílio e Historia Reciente. Avances y perspectivas de um campo em construcción. Aletheia, vol. 1, n. 2, maio 2011. Disponível em: http://www.aletheia.fahce.unlp.edu.ar/numeros/numero-2/no2-en-pdf/Jensen-%20OK.pdf
Unidade 2: Experiências de exílios pelo mundo – Formas, protagonistas, narrativas e narradores.
SAID, Edward. Exílio intelectual: expatriados e marginais. In: SAID, Edwar. Representações do intelectual: as conferências Reith de 1993. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 55-70.
RAMA, Ángel. La riesgosa navegación del escritor exiliado. In: RAMA, Ángel. La riesgosa navegación del escritor exiliado. Montevideo: Arca, 1998. p. 235-250.
ROLLEMBERG, Denise. “Exílio. Refazendo identidades.” Revista da Associação Brasileira de História Oral, Rio de Janeiro, v. 2, p. 39-73, 1999. Disponível em: http://www.historia.uff.br/nec/materia/artigos/ex%C3%ADlio-refazendo-identidades
FREIRE, Américo. Ecos da estação Lisboa. O exílio das esquerdas brasileiras em Portugal. Sociologia, Problemas e Práticas, N. 64, 2010, P. 37-57. Disponível em: http://spp.revues.org/241#quotation
YANKELEVICH, Pablo. Prensa y exilio. In: YANKELEVICH, Pablo. Ráfagas de un exilio. Argentinos en México, 1974-1983. México: FCE, 2010, p. 51-114.
MARQUES, Teresa Cristina Schneider. Militância política e solidariedade transnacionais: a trajetória política dos exilados brasileiros no Chile e na França (1968-1979). Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Ciência Política, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011, p. 76-103.
Les relations franco-brésiliennes à l’épreuve de l’exil : archives des Affaires étrangères. In: DOS SANTOS, Idelette Fonseca; ROLLAND, Denis (Ed.).Le Brésil des gouvernements militaires et l’exil, 1964-1985: violence politique, exil et accueil des Brésiliens en France, témoignages et documents. Editions L’Harmattan, 2008, p. 281-304.
SETEMY, Adrianna. “Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague.” In: SETEMY, Adrianna Cristina Lopes. Sentinelas das fronteiras: o Itamaraty e a diplomacia brasileira na produção de informações para o combate ao inimigo comunista (1935-1966). Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013, p. 248-323.
Leitura e discussão de trechos do romance “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Padura. PADURA, Leonardo. O homem que amava os cachorros. Boitempo Editorial, 2013.
Leitura e discussão de poemas e contos do livro “Geografias”, de Mário Benedetti. BENEDETTI, Mário. Geografias. Montevidéu: Punto de Lectura, 1984.
Exibir e discutir o filme “Tangos, o exílio de Gardel”. Sinopse: Um grupo de artistas argentinos exilados em Paris se empenha na montagem de um espetáculo sobre Carlos Gardel. Os textos do espetáculo são enviados de Buenos Aires por Juan Uno, que permaneceu no país para resistir à ditadura militar.
Exibir e discutir o filme “Dialogos de exiliados” Sinopse: em 1974, pouco depois do golpe militar no Chile, um grupo de chilenos exilados em Paris analisam a realidade francesa a partir do prisma daexperiência chilena. Nesse momento, aparece na França um cantor partidário da “Junta Militar”a cantar a “realidade do Chile”, e os exilados o “seuqestram à moda chilena…
Unidade 3: Memórias e arquivos para uma historicização da experiência do exílio.
FRANCO, Marina. Sentidos y subjetividades detrás del discurso: reflexiones sobre las narrativas del exílio producidas em entrevistas orales. Anuário de Estúdios Americanos, 64, 1, enero-junio, 37-62. Sevilla (Espanha), 2007. Disponível em: http://estudiosamericanos.revistas.csic.es/index.php/estudiosamericanos/article/view/32/ 31
Rollemberg, Denise. “Mémoires en exil, mémoires d’exil.”. Idelette Muzart; Denis Rolland (orgs.). L’exil brésilien en France : histoire et imaginaire. Paris: L’Harmattan, 2008, v. 1, p. 17-34. Disponível em: http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/Memoires_en_exil_memoires_dexil.pdf
La parole de temoin. In: DOS SANTOS, Idelette Fonseca; ROLLAND, Denis (Ed.).Le Brésil des gouvernements militaires et l’exil, 1964-1985: violence politique, exil et accueil des Brésiliens en France, témoignages et documents. Editions L’Harmattan, 2008. (A definir)
Exibir o documentário “diálogo sobre el exilio” Sinopse: Percy Matas entrevista Raúl Ruiz em Santiago, em abril de 2009 e conversam a respeito do exílio chileno e sobre a gravação do filme “dialogos de exilados”, dirigido por Raúl Ruiz.
