Os amigos do bem comum: os “repúblicos” no Portugal Moderno (1578-1668)

Com Prof. Dr. Daniel Saraiva

Ementa:  Ao longo dos séculos XVI e XVII, difundiu-se nas línguas ibéricas o vocábulo “repúblico”, empregado para designar um ideal de conduta cívica e devoção ao bem comum. Equivalente moderno das expressões latinas reipublicae studiosus, boni publici studiosus ou reipublicae amicus, a noção de “repúblico” anuncia a afirmação não apenas de um novo tipo de agente político, mas de uma nova concepção de comunidade. O advento e a generalização dessa categoria colocam, por si só, problemas interpretativos ingentes para os estudiosos do passado lusitano, habituados, em geral, a pensar o reino de Portugal como uma sociedade visceralmente conservadora, rigidamente hierarquizada, profundamente elitista e voluntariamente aferrada à defesa intransigente dos seus fundamentos mais arcaicos. Examinando a intervenção política de um conjunto de agentes que se identificaram – ou foram identificados por seus contemporâneos – como “repúblicos”, o presente curso tem por objetivo discutir o significado e as conseqüências históricas da emergência de um ideário republicano de inspiração clássica no seio da monarquia portuguesa.

Módulo I. A república monárquica de Portugal e a tradição do governo misto

Módulo II. Os repúblicos e a crise de sucessão de 1578-1580

Módulo III. Os repúblicos durante a união das Coroas ibéricas

Módulo IV. Os repúblicos e a Restauração

Bibliografia

Textos de época:

ÁLVARES, Luís. “Pregação do P.e Luís Alvarez animando
à defensão do Reino, quando os castelhanos o queriam entrar. Feita
na Sé de Évora em dia da Ascensão de 1580”, in CAEIRO, Francisco. O arquiduque Alberto de Áustria. Lisboa:
edição do autor, 1961, pp. 522-531.

BUCETA, Erasmo, “Dictamen
del Conde de Salinas, en que se examinan las prerrogativas de la Corona y de
las Cortes de Portugal”, Anuario de
historia del derecho español
, nº 9, 1932, pp. 375-385.

CARNEIRO, Diogo Gomez. Oração apodixica aos scismaticos da Patria… Lisboa: Lourenço de
Anveres, 1641.

CIRNE DE SOUSA, Pero Vaz. Relação do que fez a villa de Guimaraens do tempo da felice
aclamação de Sua Magestade, atè o mes de Octubro de 1641
. Lisboa: Lisboa,
Jorge Rodriguez, 1641.

DIAS, Eurico Gomes. Olhares sobre o Mercvrio Portvgvez [1663-1667], 2 vols. Lisboa:
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.

ELLIOTT, John et RUIZ DE LA PEÑA, José Francisco (eds.). Memoriales y cartas del conde-duque de Olivares, tomo I. Madri: Ediciones
Alfaguara, 1978.

FERNANDEZ DE CASTRO,
Nicolas. Portugal convenzida con la razon
para ser venzida con las armas de Don Phelippe IV
… Milão: Hermanos Malatestas, 1648.

GOUVEIA, Francisco Velasco. Justa acclamação do Sereníssimo Rey de Portugal, D. João o IV.
Lisboa: Lourenço de Anveres, 1644.

_____ Perfidia de Alemania, y de Castilla, en la prision, entrega,
accusacion, y processo del Serenissimo Infante de Portugal Don Duarte
. Lisboa: Imprensa Craesbeekiana, 1652.

LÍPSIO, Justo. Libro de la constancia. Sevilha: Matias Clauijo, 1616.

MACEDO, António de Sousa de. Armonia Politica dos documentos divinos com as conveniencias de Estado:
exemplar de Principes no governo dos gloriosissimos Reys de Portugal
… Haia:
Samuel Broun, 1651.

MELO, D. Francisco Manuel de. Epanaphoras de varia historia portugueza. A ElRey Nosso Senhor D.
Afonso VI. Em cinco relaçoens de sucessos pertencentes a este Reyno, que
contem negocios publicos, politicos, tragicos, amorosos, belicos, triunfantes
.
Lisboa: Henrique Valente de Oliveira, 1660.

MONIZ, Febo. Discurso inaugural da sessão do Terceiro
Estado nas Cortes de Almeirim, in OLIVEIRA, Eduardo Freire. Elementos para a história do município de
Lisboa
, vol. I, pp. 630-633.

OSÓRIO, Jerônimo. Carta
à rainha de Inglaterra. Introdução de José V. de Pinha Martins. Crítica e
modernização do texto, tradução e notas de Sebastião de Pinho
. Lisboa:
Biblioteca Nacional, 1981, pp. 243-247.

REBELO, Diogo Lopes. De republica gubernanda per regem. Paris: Antoine Denidel, 1496.

RIBEIRO, João Pinto. Discurso sobre os fidalgos e soldados Portugueses não militarem em
conquistas alheas desta Coroa
, Lisbonne, Pedro Crasbeeck, 1632.

SALVADOR,
Frei Vicente do. História do Brasil.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000138.pdf.

TEIXEIRA DE CARVALHO, Joaquim Martins (ed.). Notas de um
escrivão do povo
. Coimbra: Imprensa da
Universidade, 1922.

VIEIRA,
António. Sermão de Santo António aos peixes, disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=49844.

Bibliografia contemporânea:

AMELANG, James S.. El vuelo de Ícaro. La autobiografía popular
en la Europa Moderna
. Madri:
Siglo Veintiuno de España Editores, 2003.

BLYTHE, James, H.. Ideal
Government and the Mixed Constitution in the Middle Ages
. Princeton:
University of Princeton, 1992.

BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola et PASQUINO,
Gianfranco (eds.). Dicionário de política,
vol. 1. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.

CAMENIETZKI, Carlos Ziller. “História e passado da
América portuguesa: escritores, religiosos, repúblicos do Brasil no século XVII
e sua fortuna histórica”, in CAROLINO, Luís Miguel, GESTEIRA, Heloisa Meireles
et MARINHO, Pedro (orgs.). Formas do
império. Ciência, tecnologia e política em Portugal e no Brasil. Séculos XVI ao
XIX
. Rio de Janeiro-São Paulo: Paz e Terra, 2014, pp. 143-169.

COLLINSON, Patrick. “The Monarchical Republic of Queen
Elizabeth I”, Bulletin of the John
Rylands University Library of Manchester
, vol. 69, 1987, pp. 394-424.

CORTEGUERA, Luis R.. Per al bé comú. La
política popular a Barcelona, 1580-1640
. Vic: Eumo, 2005.

CORTESÃO, Jaime. Os
Factores Democráticos na Formação de Portugal
. Lisboa: Portugalia Editora,
1966.

GAILLE-NIKODIMOV, Marie. Le gouvernement mixte: de l’idéal politique au monstre constitutionnel
en Europe, XIIIe-XVIIe siècle
. Saint-Étienne: Publications de
l’Université de Saint-Étienne, 2005.

GIL PUYOL, Francisco Xavier, “Concepto y práctica de
república en la España moderna. Las tradiciones castellana y catalano-aragonesa”, Estudis:
Revista de historia moderna
, nº 34, 2008, pp. 111-148.

GODINHO, Vitorino Magalhães. “Finanças públicas e
estrutura do Estado”, in Idem, Ensaios,
vol. II, 2ª ed. Lisboa: Sá da Costa, 1978, pp. 47-50.

JOUANNA, Arlette. “Le thème de la liberté française dans
les controverses politiques au temps des guerres de Religion”, in TALLON, Alain
(ed.). Le sentiment national dans
l’Europe méridionale aux XVIe et XVIIe siècles (France, Espagne, Italie)
. Madri:
Casa de Vélazquez, 2007, pp 19-32.

KAISER,
Thomas E., “The Public Sphere”, in DOYLE, William (ed.). The Oxford Handbook of the Ancien Régime. Oxford: Oxford University
Press, 2012, pp. 409-428.

MARQUILHAS, Rita. A
faculdade das letras. Leitura e escrita em Portugal no século XVII
. Lisboa:
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2000.

McDIARMID,
John F. (ed.). The Monarchical Republic
of Early Modern England.
Essays in Response to Patrick Collinson. Aldershot-Burlington: Ashgate, 2007

MOULIN, Léo. “Le gouvernement des Communautés religieuses comme type de
gouvernement mixte”, Revue française de
science politique
, 2º ano,
nº 2, 1952, pp. 335-355.

POCOCK, John G. A.. The Machiavellian Moment: Florentine Political Thought and the Atlantic
Republican Tradition
. Princeton: Princeton University Press, 1975.

REIS, Antonio Matos. Origens dos municípios
portugueses. Lisboa: Livros Horizonte, 1991.

RUBIÉS, Joan Pau. “La
idea del gobierno mixto y su significado en la crisis de la Monarquía
Hispánica”, Historia Social, nº 24,
1996, pp. 57-81.

SKINNER,
Quentin. The Foundations of Modern
Political Thought
, 2 vols.. Cambridge: Cambridge University Press, 1978.

STARLING, Heloísa M. Ser republicano no Brasil colônia. A história de uma tradição esquecida.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

VIROLI, Maurizio. La libertà dei servi, Rome-Bari,
Laterza, 2012.

_____ Per amore
della patria. Patriottismo e nazionalismo nella storia
. Roma-Bari: Laterza,
1995.

WIRSZUBSKI,
Chaïm. Libertas as a political idea at
Rome during the Late Republic and Early Principate
. Cambridge: Cambridge University Press, 1968.

Quinta-feira
14:00